quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Os contos de um ilusão - O Treinamento

      Sem entender o que era aquela sensação, Rafael seguiu o homem da armadura dourada. Juntos atravessaram uma fenda de luz que fora criada por entre as árvores do bosque. Olhou para trás e hesitou por alguns instantes. Pensou em seu pai, não poderia deixá-lo sem ao menos uma despedida. Como se os seus pensamentos tivessem sido lidos, o magnífico ser de aura tão pura quanto a luz do amanhecer interrompeu seu momento de dúvida:
   - Não se preocupe! Assim que aceitaste seguir-me o seu pai perdeu todas as memórias que referiam você. Um dia, quem sabe, as peripécias do destino brinquem conosco e tudo isso não torne a acontecer e, assim, você poderá ter a tranquila vida de lenhador que sempre sonhou. - Ele deu um breve sorriso com o canto da boca para o confuso rapaz.
      O garoto não pôde segurar as lágrimas, escorreram pelo seu rosto, largou o machado e adentrou pela fenda até sumir por entre a forte luz que ela emanava.


   - O seu treinamento será intenso, irá aprender como as mentes conscientes deste mundo funcionam e também como ludibriá-las. Será um mestre da diplomacia e irá compreender como utilizá-la com sabedoria, mas, principalmente, quando irá utilizá-la. - Com uma voz suave falou o homem de armadura dourada, seus cabelos agora estavam expostos, castanhos, não muito longos e levemente encaracolados nas pontas.
      O menino Rafael se encontrava sentado sob uma espécie de mesa de pedra acinzentada, posicionada ao centro de um vasto pátio ensolarado, circundado por plantas abarrotadas de flores rosas intercaladas com outras de flores amarelas, semelhantes aos ipês. Caminhando ao seu redor, o robusto homem prosseguiu - Ao fim deste período, você estará tão familiarizado com esta arte que a sua capacidade de moldar a realidade será suficientemente elevada que nem mesmo os segundos que constituem as eras serão imunes às sutilezas de suas ilusões.
   - Por que? Eu preciso compreender. Por que eu? Por que alguém tão magnífico precisa perder tanto tempo ensinando a alguém algo que já ele mesmo já domina? - Confuso, Rafael acompanhava o caminhar de seu mestre apenas com sutis movimentos de sua cabeça.
   - O ciclo foi quebrada Rafael, eu não deveria estar aqui, mas estou. O mal retornou antes e foi banido, não por mim. A profecia não se cumpriu desta vez, um descompasso nas eras ocorreu. E eu temo pelo que pode vir a ocorrer.
   - Mestre, eu não entendo, me sinto cego em meio a uma tempestade de areia.
   - A cada era, o mal e o bem acordam e andam sobre estas terras na sua forma física. É uma profecia, algo destinado a acontecer, um acordo feito pelo caótico universo em que vivemos, uma forma de manter o equilíbrio. O mal surge e eu sou a resposta à ele. O que ocorre agora, é que o mal foi trazido a vida antes do tempo e quando eu despertei ele já havia sido banido por um grupo de corajosos aventureiros. Por mais bem intencionados que eles estivessem, o ciclo foi quebrado e da próxima vez que o mal ressurgir eu poderei ainda estar dormindo. Se não tivermos a sorte de encontrar um novo grupo de aventureiros capazes de combatê-lo, estas terras estarão condenadas e nós conheceremos o fim dos tempos.
   - Mas mestre, o que eu poderei fazer perante tal poder?
   - Rafael, se este mal retornar antes da minha próxima vida, as tuas forças deverão resistir e tu deverás combater este mal. - Com a mão sobre o ombro de seu aprendiz, os olhos fixos e arregalados fitando os seus olhos, ele prosseguiu - e se, por alguma razão, o mal acabar com todas as esperanças, se eu não ressurgir em tempo, se nada mais puder enfrentá-lo, tu deverás estar pronto para realizar o sacrifício. A última habilidade que aprenderás comigo, também irá custar a tua vida. Um último recurso, para que quando a luz desaparecer por completo, que tu possas te tornar ela e trazer a esperança para esta terra uma vez mais.
      Pela primeira vez Rafael viu a preocupação nos olhos de seu mestre, como se ele soubesse que aquilo não era apenas uma hipótese, mas sim algo que estava predestinado a ocorrer. Ele seria seu porta voz, o mais sábio a andar por estas terras, sempre a espreita, esperando o pior acontecer. O mal não poderia vencer.
      O homem estendeu a sua mão esquerda e abriu o punho, antes cerrado, em frente ao seu aprendiz, em sua mão, uma pedra, envolta por uma camada transparente que permitia ver o seu interior a brilhar, com uma luz dourada, semelhante ao sol. - O que é isto? - Perguntou Rafael.
   - Isto, meu amigo, é o resultado que eu busquei por muitas vidas e apenas nesta consegui. Devido à quebra do ciclo, eu não precisei passar anos batalhando contra o ser das trevas e consegui tempo suficiente para forjar esta relíquia. Ela é a prisão perfeita. Nenhuma alma maligna é capaz de fugir da prisão de luz, nada é capaz de sair de dentro após ser ali colocado. Se o mal retornar, o enfraqueça e aqui o prenda, somente assim o ciclo terminará e esta terra estará livre, de uma vez por todas, destas incessantes batalhas que o universo nos destinou a travar pela eternidade.
   - Mas mestre, se acabarmos com o mal para sempre, o que irá acontecer com o senhor?
      Sorrindo o homem respondeu friamente:
   - Eu finalmente poderei descansar em paz!



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terça-feira, 14 de junho de 2016

Os contos de uma ilusão - O Aprendiz

      Vinte anos se passaram desde aquela bela manhã de primavera em que um bebê chorava na porta da cabana do lenhador. Até hoje o homem aguarda a vinda de alguém em busca daquela criança que, agora, ele chama de filho.
Rafael, como fora nomeado, acordara novamente antes dos sóis raiarem para preparar o pão do café da manhã, ele e seu pai partiriam cedo e como de costume, estavam com o serviço atrasado. Não que fosse possível adiantar-se, o senhor feudal da região sempre exigia mais e mais impostos. No trimestre anterior quase perderam a cabana onde moram, por sorte os emissários do governo sentiram o cheiro de pão recém feito e deliciaram-se com aquilo que seu pai chama de a maravilha do mundo novo.
      Ainda na cama, o lenhador acabara de despertar com o cheiro de pão fresco invadindo seu quarto, esfregou de leve seus olhos e deixou correr suas mãos sobre a cabeça um pouco calva, levantou-se num salto como o normal de todas manhãs, acreditava que assim despertaria melhor e estaria mais disposto para o trabalho árduo do dia que viria pela frente. Dirigiu-se à cozinha com seus pés descalços, a cada passo uma tábua diferente do assoalho rangia alto, era impossível andar por aí sem que ninguém percebesse, parou à porta e avistou seu filho adotivo a terminar os últimos preparativos para o almoço que fariam em meio ao bosque. Jovem, de aproximadamente 1,80 de altura, cabelos curtos e castanhos, olhos verde claro e de corpo não muito robusto, virou-se para o pai - Bom dia! Estamos atrasados, de novo. Acho que voltaremos após o anoitecer. - Disse com olhar pesaroso escancarado em sua face.
   - De fato, mas sem pressa filho, às vezes o tempo bem gasto aqui pode nos economizar muitas horas no futuro, sente-se e coma com calma. - Disse pacientemente o velho homem agora sentado em uma cadeira na ponta esquerda da mesa servindo duas xícaras de café bem quente.
   - Mas pai, não temos tempo, pegue um pedaço de pão ou algumas frutas e comemos pelo caminho. - Disse o jovem com tom de impaciência na voz enquanto colocava alguns frutos na cesta de comida. - Logo os cobradores estarão em nossa porta e precisamos dar à eles o que desejam, não penso que algumas fatias de pão irão nos salvar novamente.
      O homem mais velho deu de ombros para o que acabara de ser dito e continuou, tranquilamente, a tomar seu café. Impaciente, o jovem saiu porta afora dizendo enquanto carregava a cesta do almoço em uma das mãos e um machado de corte na outra - Lhe espero no bosque, alguém tem de se preocupar com os problemas que estão por vir.


   - Mais uma longo dia neste bosque amargo. Às vezes penso que vou passar o resto dos meus dias aqui. - Pensou em voz alta o garoto.
   - Apenas se assim desejar! - Ouviu-se de longe uma voz áspera vindo por entre as árvores do bosque. O vento acabara de ficar mais forte e as folhas nas altas copas balançavam intensamente, como se o lugar houvesse ganhado vida.
   - Quem está aí? - Perguntou o rapaz que sem hesitar largou a cesta de comidas no chão e empunhou seu machado de corte com as duas mãos o posicionando em frente ao seu corpo, como se estivesse pronto para defender-se de um ataque surpresa.
Por dentre as árvores um homem alto circundado por uma aura ofuscante e dourada avançou na direção do garoto, com o dedo indicador tocou sua testa e como num piscar de olhos mil cenas invadiram sua mente.
   - E eu me disponho a aprender e sacrificar-me assim que necessário. - Balbuciou o garoto pasmo, seus olhos estavam desfocados como se estivesse encantado com um belo pássaro a cantar em uma ensolarada manhã de domingo. Largou suas ferramentas e adentrou pela floresta seguindo o misterioso homem de armadura dourada.


Continua...
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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Os contos de uma terra sem dono - A fundação das oito casas (Parte 2)


      Entre algumas colunas quebradas e cortinas rasgadas, a luz do sol avermelhado invadia a local onde antigamente era um nobre salão de reuniões, com seus vitrais coloridos e tapetes que conduziam até o trono de bronze encontrado na parte frontal do salão e oposto a uma grande porta de carvalho maciço com brasões e símbolos reais entalhados nela, dois homens, no centro frontal do palácio, com sua postura ereta e com olhar vago e desfocado, o estranho forasteiro que antes fora intimidado pelos habitantes na taverna estava frente a frente com o nobre cavaleiro que mantinha sua pose imponente.

   - É preciso reconstruir Sindera e devolver a este lugar a antiga influência que no passado ele exalava por seus castelos e muralhas. - Argumentava o forasteiro com tom incisivo.
   - Podemos viver de forma mais tranquila se não cedermos a este tipo de tentações novamente, os homens anseiam por poder e quando este lhes é concedido a perdição, que insiste em nos rodear, invade nossos peitos e corrompe até o mais nobre dos guerreiros. Você deveria saber melhor que qualquer outro. - Ao proferir estas palavras o pesar nos olhos do homem a sua frente tornou-se evidente, a culpa por um erro cometido no passado estava escancarada em seu rosto marcado por cicatrizes.

   - Este argumento não isenta a necessidade de termos um novo líder, um novo alguém para que o povo possa seguir, admirar. O que eu fiz está acabado e o preço que paguei foi baixo perto dos meus atos e por isso, meu amigo, precisamos nos unir, pois juntos podemos reconstruir este mundo de ruínas e lembranças de um passado encrustado de erros.
   - E quanto aos outros que sobreviveram, onde estão? - Desconfiado, o nobre deu as costas para o forasteiro e andou alguns metros em direção ao trono de bronze.
   - Assim como eu, estão tentando juntar os destroços que sobraram da nossa terra. Vamos unificar os leais à resistência em condados, vilarejos e quem sabe reinos. - Avançou alguns passos, estendeu seu braço direito como se buscasse algo para se apoiar e então deixou repousar sua mão sobre o ombro do guerreiro. - O sangue dos velhos reis corre em suas veias, por isso estas aqui, liderando estes homens que já não tem para onde ir.
   - Não se esqueça que foi este mesmo sangue que nos condenou a todos por várias e várias vezes, a fraqueza da linhagem é evidente, meu amigo, somos suscetíveis à corrupção. Não quero arriscar-me a cometer os mesmos erros de meus antepassados.

      O forasteiro, sem hesitar, interrompeu-o de forma incisiva.
   - Sua espada poderia estar sendo mais uma mercenária aniquilando vidas inocentes em troca de abrigo e comida, mas não, mesmo que não aceite, você os lidera, esta em seu instinto, permita que isto aflore, Seja o rei que este povo precisa, assuma o posto que é seu por direito, seja a luz após este período tão longo e sofrido de escuridão.
   - Como se pode guiar alguém quando não se é capaz de encontrar o próprio caminho? - Questionou o nobre posicionando-se novamente de frente ao forasteiro que respondeu de imediato.
   - Às vezes precisamos estar cegos para poder enxergar. Por muito tempo estive perdido nas sombras do meu castigo, sem rumo a seguir, condenado a amargurar a escuridão eterna e a culpa por toda a dor que minhas decisões acarretaram. Desde que me foi tirada a visão, naquela última batalha contra o mal, eu trilhei um caminho de rancor e amarguras até que, definhando entre ruínas e fortalezas abandonadas eu encontrei a luz. - De forma suave o bardo, como um dos protagonistas na grande guerra, virou-se para disfarçar a lágrima que escorria por seu rosto. - Talvez você só precise aceitar o seu destino e então ele se encarregará de todo o resto.

      O silêncio arrebatador ocupou o salão de reuniões após as palavras do forasteiro, apenas o som dos ventos e a fina areia que entrava cortante por entre os estilhaçados vitrais coloridos. Loran, o guerreiro de armadura azulada e espada larga estava convencido, a necessidade de um líder assumido era evidente, seu grupo já havia sido atacado e saqueado por bárbaros nômades diversas vezes, sem alguém no comando, formar uma resistência era inviável. Após mais alguns longos minutos de um amargurante silêncio Loran o quebrou dizendo:
   - E que assim seja instituído o primeiro reinado dos povos livres.


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segunda-feira, 30 de maio de 2016

50 aventuras prontas para D&D

Dicas para mestres iniciantes ou não tão criativos que querem começar suas aventuras neste fantástico universo do RPG de mesa.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Os contos de uma ilusão - O Primeiro Encontro

      Era uma amigável manhã de primavera quando ouviu-se um choro de criança ao lado de fora do velho barraco, construído com madeira maciça em meio a um antigo bosque, agora florido e cheio de vida. Entre o cantos dos pássaros Ragash saltou de sua cama num pulo, estava atrasado, as árvores não se cortariam sozinhas e logo os senhores da terra viriam buscar os impostos, sequer atentou-se para os berros da criança que se encontrava em um cesto de vime, ao pé de sua porta frontal. Vestiu sua capa de couro fino, agarrou seu surrado machado de corte e um pedaço de pão velho que estava sobre a mesa da modesta cozinha. Rapidamente foi em direção à porta, por um passo não pôs suas botas sobre o pobre bebê que parecia faminto. Num susto ainda maior que o de antes, saltou para trás, o jovem lenhador deixou seu machado cair e deu mais uma mordiscada no pão, pasmo com a cena perdeu dois ou três minutos observando pensativo, abaixou-se vagarosamente - Um bebê? - pensou o o assustado homem dando leves cutucadas com seu dedo indicador direito nas rosadas bochechas do menino. Colocou o pedaço de pão que restava na boca, com a mão direita segurou a cesta que continha o menino e com a esquerda ajuntou do chão seu machado - Não sei quem esqueceu você aqui garoto, mas eu não posso me atrasar ainda mais, se quiserem que me encontrem na floresta e se me encontrarem que paguem uma boa recompensa por isso. - Falou com voz macia e com um breve sorriso preocupado, sem hesitar pôs-se a andar floresta adentro.



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Os Nazgul, os magos azuis e a árvore branca de Gondor.

Os contos de uma terra sem dono - A fundação das oito casas (Parte 1)

      A devastação era total, o servo das trevas Odov'Akhar havia caído, mas junto com ele reis, guerreiros e impérios foram ao ímpeto destino que conhecemos por fim.
      Sem rumo, sem leis ou líderes para seguir, alguns optaram pelo exílio, outros pelo sangue em troca de ouro, hoje os chamamos de mercenários, e ainda há outros, que agruparam-se em pequenos vilarejos e levam uma vida simples, baseada em produzir para comer durante as frias tardes de outono e se embriagar durante a noite com cervejas baratas, produzidas nos fundos de alguns barracos construídos às pressas que imitam, de forma simplória, as antigas tabernas onde bardos e guerreiros cantavam suas aventuras pelo mundo a fora.



      Era mais uma noite comum entre as ruínas de Sindera, os sobreviventes que ali habitavam já se dirigiam para suas casas enquanto alguns iam para a taberna comunitária do local. As casas foram adaptadas as pressas entre as ruínas da antiga e próspera cidade de Sindera, alguns tapumes entre as paredes azulejadas, lonas e cobertores de lã impediam os fortes ventos carregados de poeira do deserto vizinho de invadir as habitações durante as secas e escuras noites. Quanto à taberna, não havia distinção entre homens, mulheres ou crianças, ali era o único momento que, uma vez ou outra, se encontraria um sorriso tímido ou um momento descontraído. Com o chão de terra batida, cercada por paredes rachadas, até mesmo a luz das tochas poderia penetrar nas mesas improvisadas com caixotes de madeira que preenchiam o local. No balcão, um senhor de barba branca não muito longa e de não muitos cabelos estava lustrando algumas taças, elas não tinham um padrão único, como se cada uma tivesse sido resgatada em ruínas diferentes, cuidadosamente as colocava ao lado de uma bacia com água, quando ouviu-se a porta de carvalho improvisada rangir alto.



      A poeira do deserto adentrou pela porta com uma forte rajada de vento que acompanhava um homem de estatura mediana, pele clara e vestes simples, cobria parte de seu rosto com um capuz de malha marrom claro, em suas costas era possível ver a silhueta de algo semelhante a um braço de violão. Bastou um passo a frente e todos no salão voltaram suas atenções para o forasteiro que discretamente sentou-se em uma das mesas no canto mais afastado disponível.
      Alguns murmúrios recomeçaram e dentre eles podia-se ouvir aqui ou ali comentários como: "Já não podemos aceitar mais gente." - ouvia-se de uma mesa com alguns anões de barbas longas e mãos calejadas, "No começo não passávamos de vinte, agora já somos quase duzentos." - Alguns construtores balbuciavam entre goles de cerveja e mordiscadas no pão velho.
      O homem não pediu nada, sentou-se, pegou seu cachimbo de madeira curvado na ponta e largou seu instrumento em cima de um dos caixotes.
      Delicado e ao mesmo tempo surrado, logo pôde-se reconhecer que a silhueta vista antes, na porta, se tratava de um violoncelo, cor vinho, nas suas bordas marcas, como se o tivessem deixado cair nas beiras de uma fogueira ardente, no cabo algumas falhas na tinta estampavam que algo afiado havia passado por ali, mas nenhuma destas feridas de estrada esmaeciam a exuberante aparência daquele instrumento.

- Estou cansado de trabalhar para alimentar estes inúteis, não vou mais tolerar novos moradores que querem apenas aproveitar-se do nosso suor enquanto bebem de nossas cervejas e comem de nossa comida! - Esbravejou um homem robusto de cabelos longos e ruivos que acabava de se levantar.

     
      Num saque rápido pegou seu martelo longo e caminhou na direção do forasteiro. Em algo como seis ou sete passos o homem de quase dois metros de altura chegou na mesa do indivíduo misterioso. Com uma única passada de sua mão empurrou o violoncelo ao chão, ergueu seu martelo, o empunhando com as duas mãos, e desferiu o golpe da forma que julgou ser a mais eficaz. Não tinha a intenção de matá-lo, apenas esmagar um ou dois ossos, os bárbaros vermelhos, como era conhecido o clã do robusto homem ruivo antes da grande guerra, nunca se importaram em causar dor e sofrimento a todos aqueles que não entravam em acordo com os seus princípios.
      Quando o inevitável golpe do machado desceu sobre o desprevenido viajante ouviu-se um estampido, até mesmo algumas faíscas puderam ser vistas. Com sua arma travada no ar o bárbaro não entendia o que estava acontecendo, ele tinha certeza de que toda a sua força havia sido depositada naquele ataque e então o homem ergueu sua cabeça pela primeira vez desde a sua entrada na taberna, fixou seus olhos castanhos no rosto do bárbaro e sorriu - Agradeça por ainda estar vivo, ela não costuma perdoar assim - disse fitando o estarrecido homem barbado.
      Não entendendo o que se passava ali, recuou alguns passos e não exitou em condenar - Magia das trevas, ele é um servo vivo de Odov'Akhar, irá matar a todos com seus truques e confusões! Fujam ou acabem com ele enquanto ainda esta sozinho! - Ao perceber o que passava o forasteiro levantou-se do banco, largou seu cachimbo e cuidadosamente recolheu seu instrumento do chão, andou na direção do bárbaro que era brutalmente maior sem muitos receios, notou que os outros que estavam sentados ali ao redor começaram a se mover e os primeiros gritos pareciam tomar conta do lugar - Saia enquanto ainda pode, monstruosidade! - gritou um anão que já empunhava de machado à uns oito metros de distância do viajante.
      Os motins pareciam se organizar, os ataques ao pobre homem estavam a um passo de começar quando a porta da frente voltou a se abrir. Por ela, um homem de meia idade, cabelos castanhos avermelhados e olhos esverdeados, pele clara e braços fortes encobertos por uma armadura prateada com detalhes em azul, presa em suas costas era possível ver uma espada larga, com algumas safiras incrustadas em sua lâmina - O que esta havendo aqui? - perguntou de forma imponente, ninguém parecia ter coragem para responder.


- Já brigamos demais entre nós, sangue o bastante já foi derramado, se esse homem esta aqui pelo bem então bem-vindo ele será! - Neste momento o nobre voltou seu olhar para o bárbaro.
- Usar de magia negra não parece-me coisas de alguém de bem, senhor Comandante. - disse o bárbaro de barbas ruivas com voz seca e grossa.
- Magia negra? - Perguntou o comandante analisando o perfil do forasteiro que agora encontrava-se parado logo a sua frente.


      Não conseguindo controlar-se o bárbaro empunhou novamente seu martelo e sem hesitar desferiu um segundo golpe sobre o homem e tal como fora antes, um estampido, algumas faíscas e o martelo acabara de ganhar uma rachadura em seu bico frontal que continuava pela lateral e curvava-se em direção ao cabo de aço. Ainda mais apavorado o homem de dois metros de altura agora se afastava do forasteiro como uma zebra de um leão.
      O comandante deu um breve sorriso aproximou-se do viajante e retirou seu capuz - Então é você, a que honra devemos a presença de um dos salvadores da profecia nesta terra tão arrasada pelo nosso antigo inimigo? - O sorriso do misterioso homem deixou transparecer o ar de alívio por ter se livrado daquela briga desnecessária.


- Venha, me acompanhe por favor! - convidou o comandante que imediatamente fora seguido pelo forasteiro.


      Todos no local observaram a saída dos dois pela porta da frente, sem entender, voltaram aos seus postos e às suas cervejas, se o nobre comandante confiava naquele homem então todos ali confiariam nele também.




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segunda-feira, 16 de maio de 2016

Os contos de uma história fantástica...

Um local onde a imaginação voa solta, onde pés se transformam em asas e dedos se transformam em  garras. Um ponto de leitura para aventureiros que são fascinados por histórias fantásticas e mirabolantes que irão levar você para fora de seu quarto, sala ou seja lá onde estiver com seu dispositivo eletrônico. Além de contos, séries de postagens contando linhas históricas, dicas de RPG aqui você irá encontrar um mundo medieval amplamente difundido com imagens, vídeos e produções autorais para que você deleite-se com este incrível universo que instiga a curiosidade de pessoas no mundo todo.