sábado, 3 de março de 2018

Os contos da nova era: Capítulo I - Encontros Inesperados

    No norte, em meio ao último agrupamento sedentário dos bárbaros, mais uma dia comum para o ser de corpo robusto, pele escura, cabelos pretos longo e com aparência de um homem de meia idade. Desentupir latrinas, alimentar javalis e limpar as trincheiras faziam parte do seu cotidiano. Seus conterrâneos não faziam questão de sua presença, as encaradas e chacotas faziam parte do preço a se pagar por sua estranheza. Sua única diversão vinha ao final do dia, quando conseguia terminar os serviços ou, pelo menos, fugir deles, atravessava a longa muralha pelos túneis abandonados que corriam por entre o solo congelado de toda a região e bandeavam-se para as montanhas, lá, com seu arco improvisado, fazia de caça qualquer criatura viva que se colocasse no caminho. Era o momento que permitia a sua alma pulsar e sentir a vida correr em suas veias. Ao contrário dos outros bárbaros, Jôrah era velho, já atingia quase 700 anos, na verdade, ele nunca teve certeza de sua idade. Sem compreender o que acontecia com ele, sentia-se diferente dos e por acreditar que sua longa vida tinha fonte em feitiçarias, ele aceitava as condições subumanas às quais era submetido.


Resultado de imagem para barbaro negro rpg    Logo ao Sul das montanhas que costeavam o território bárbaro, havia uma floresta. Muito densa e preenchida por árvores tão altas que cobriam o sol com suas copas, os bárbaros não atreviam-se a entrar por ali, afinal a magia estava tão incorporada ao lugar que até mesmo eles, completamente inertes a qualquer recurso mágico, poderiam sentir viva no solo, nos arbustos, nos troncos e no ar da floresta das fadas.
    Para Jôrah, aquela sensação não causava estranheza. Sentia-se em paz por ali, com seu arco em mãos não importava-se com os boatos de espíritos e maldições que ouvia nos becos do grande clã bárbaro.
    Ouviu um barulho, vindo do meio de um arbusto. Logo ele se pôs atrás de uma pedra e apontou seu arco, sem pensar duas vezes atirou uma flecha na direção do arbusto do qual provinha o barulho. Ouviu algo cair por terra.
  - Aah! Consegui, esse cervo deve ser dos grandes! - Comemorava Jôrah, caminhando confiante na direção de sua caça abatida.
    Ao mexer as folhas do arbustos, em um piscar de olhos, apontavam-se para ele tantas lanças quanto se poderiam encaixar em um círculo ao seu redor. Podia ouvir apenas o bater de muitas asas e o voo suave de um batalhão de fadas. Com cerca de 1,80 de altura, asas coloridas porém translúcidas, pele clara e armaduras delicadas porém altamente resistentes, finalmente Jôrah estava conhecendo as fadas de que tanto ouvia falar. Logo a sua frente e atrás do arbusto ao qual ele dirigia-se, vê que um soldado recolhe uma formosa fada do chão, em sua coxa esquerda havia uma flecha, a mesma flecha que partira do arco de Jôrah. Um estalo e uma dor aguda em sua nuca, tudo girou e em questão de alguns segundos o grande homem de pele negra pálida estava caído no chão desmaiado.


    Jôrah lentamente acordava. Preso a um totem de pedra com correntes, encontrava-se de joelhos em um gigantesco salão envidraçado e construído permeando troncos de árvores colossais. Para qualquer lugar que olhasse fitava fadas equipadas com armaduras perfeitamente moldadas com diversas pedras brilhantes cravadas nela, além das armas, que pareciam ter sido forjadas pelos ferreiros divinos, por serem donas de uma beleza inigualável e de uma rigidez invejável até mesmo aos bárbaros, senhores das armas.
    Sem muito mais tempo para realizar outras observações, avança em sua direção um ser pomposo, com uma coroa cheio de cristais cintilantes, cabelos longos e prateados, pele muito clara e duas asas esverdeadas tão grandes quanto a extensão de seu corpo.
  - Então, tu acordaste. Saiba que ainda estas vivo por um pedido nobre da senhorita que tu atacaste. - Disse impiedosamente o rei das fadas. - Deixe que Lannah entre e coloque suas intenções perante a corte.
Imagem relacionada    Dos fundos do salão, Jôrah ouve duas portas a se abrir. Logo ao seu lado vê a fada que havia atingido inocentemente com sua flecha algumas horas antes. Ela parecia bem, sem ferimentos, voando impecavelmente na direção do rei.
   - Meu tio - Uma voz muito suave preencheu o salão. - Não há razões para sacrificar esta vida inocente, a muito tempo eu venho o observando todo final de tarde. Ele não tinha a intenção.
  - Então o que sugeres que façamos com esta criatura Lannah? - Questiona o rei aproximando-se da bela fada. - Não possuímos celas ou prisões aqui, você conhece nossas leis.
  - Pagamento por serviços, meu rei. - Diz a fada, tornando pela primeira vez os olhos a Jôrah.
    O rei das fadas dá um breve sorriso e questiona:
  - E qual será o serviço que colocaremos esta criatura desajeitada a executar em nossas terras?
  - Permita que ele seja meu defensor e acompanhante na missão a qual enviou-me, permita que ele seja meu escudeiro na reunião convocada por Diana. Ele, sem dúvidas, é um guerreiro formidável e não creio que me faria mal algum.
    O rei das fadas põe-se a pensar, toma algumas expressões de desconfiança ao analisar o indivíduo preso a sua frente, Jôrah tem a impressão de que o rei estava lembrando de alguma coisa em um passado muito antigo e que isso estava despertando real interesse no rei pela situação.
  - Pois bem, ele irá acompanhá-lo nesta missão. Mas Lannah, existe mais um ser que irá com você.
Ao proferir estas palavras o rei faz um sinal para que os guardas reais abram uma porta aos fundos do salão. Por ela passa muito rapidamente, com um voo desengonçado e meio tímido, um bebê dragão de bronze.
    Lannah não consegue esconder o sorriso de seu rosto e rapidamente voa na direção da criatura que agora escondia-se atrás das asas do rei das fadas. Conhecida em todo o reino por seu o carisma formidável, Lannah acaricia duas ou três vezes a cabeça do dragão e a timidez transformava-se em afeto pela fada.
  - É uma fêmea, provavelmente a última de sua espécie, um achado tão raro quanto encontrar uma pedra da criação. Tome conta dela agora, para que ela tome conta de você no futuro.
    Lannah embebedou-se de felicidade ao receber tal presente que até mesmo esqueceu-se do bárbaro que havia salvado da condenação alguns minutos atrás. Quando saia do salão, ouviu aos fundo a voz do tio dizendo:
  - Lannah, vocês partem amanhã, ao meio dia. E o nome dela é Niméria!
     Ela acena com a cabeça e retira-se saltitando e brincando com a criaturinha que agora não saia de perto dela.


    O rei das fadas aproximou-se do prisioneiro e, pela primeira vez desde que acordou, dirigiu-se diretamente a Jôrah.
  - Isto é um contrato de vida, ela salvou a sua, agora você deve uma a ela. Você conhece o código dos bárbaros. - A voz do rei parecia muito mais grave e seca agora. Jôrah faz um movimento de reverência com a cabeça em respeito ao rei e concordando com a situação que lhe fora cabida, ele conhecia o código de honra dos bárbaros e não jamais deixaria de cumpri-lo.



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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Os contos de um ilusão - O Treinamento

      Sem entender o que era aquela sensação, Rafael seguiu o homem da armadura dourada. Juntos atravessaram uma fenda de luz que fora criada por entre as árvores do bosque. Olhou para trás e hesitou por alguns instantes. Pensou em seu pai, não poderia deixá-lo sem ao menos uma despedida. Como se os seus pensamentos tivessem sido lidos, o magnífico ser de aura tão pura quanto a luz do amanhecer interrompeu seu momento de dúvida:
   - Não se preocupe! Assim que aceitaste seguir-me o seu pai perdeu todas as memórias que referiam você. Um dia, quem sabe, as peripécias do destino brinquem conosco e tudo isso não torne a acontecer e, assim, você poderá ter a tranquila vida de lenhador que sempre sonhou. - Ele deu um breve sorriso com o canto da boca para o confuso rapaz.
      O garoto não pôde segurar as lágrimas, escorreram pelo seu rosto, largou o machado e adentrou pela fenda até sumir por entre a forte luz que ela emanava.


   - O seu treinamento será intenso, irá aprender como as mentes conscientes deste mundo funcionam e também como ludibriá-las. Será um mestre da diplomacia e irá compreender como utilizá-la com sabedoria, mas, principalmente, quando irá utilizá-la. - Com uma voz suave falou o homem de armadura dourada, seus cabelos agora estavam expostos, castanhos, não muito longos e levemente encaracolados nas pontas.
      O menino Rafael se encontrava sentado sob uma espécie de mesa de pedra acinzentada, posicionada ao centro de um vasto pátio ensolarado, circundado por plantas abarrotadas de flores rosas intercaladas com outras de flores amarelas, semelhantes aos ipês. Caminhando ao seu redor, o robusto homem prosseguiu - Ao fim deste período, você estará tão familiarizado com esta arte que a sua capacidade de moldar a realidade será suficientemente elevada que nem mesmo os segundos que constituem as eras serão imunes às sutilezas de suas ilusões.
   - Por que? Eu preciso compreender. Por que eu? Por que alguém tão magnífico precisa perder tanto tempo ensinando a alguém algo que já ele mesmo já domina? - Confuso, Rafael acompanhava o caminhar de seu mestre apenas com sutis movimentos de sua cabeça.
   - O ciclo foi quebrada Rafael, eu não deveria estar aqui, mas estou. O mal retornou antes e foi banido, não por mim. A profecia não se cumpriu desta vez, um descompasso nas eras ocorreu. E eu temo pelo que pode vir a ocorrer.
   - Mestre, eu não entendo, me sinto cego em meio a uma tempestade de areia.
   - A cada era, o mal e o bem acordam e andam sobre estas terras na sua forma física. É uma profecia, algo destinado a acontecer, um acordo feito pelo caótico universo em que vivemos, uma forma de manter o equilíbrio. O mal surge e eu sou a resposta à ele. O que ocorre agora, é que o mal foi trazido a vida antes do tempo e quando eu despertei ele já havia sido banido por um grupo de corajosos aventureiros. Por mais bem intencionados que eles estivessem, o ciclo foi quebrado e da próxima vez que o mal ressurgir eu poderei ainda estar dormindo. Se não tivermos a sorte de encontrar um novo grupo de aventureiros capazes de combatê-lo, estas terras estarão condenadas e nós conheceremos o fim dos tempos.
   - Mas mestre, o que eu poderei fazer perante tal poder?
   - Rafael, se este mal retornar antes da minha próxima vida, as tuas forças deverão resistir e tu deverás combater este mal. - Com a mão sobre o ombro de seu aprendiz, os olhos fixos e arregalados fitando os seus olhos, ele prosseguiu - e se, por alguma razão, o mal acabar com todas as esperanças, se eu não ressurgir em tempo, se nada mais puder enfrentá-lo, tu deverás estar pronto para realizar o sacrifício. A última habilidade que aprenderás comigo, também irá custar a tua vida. Um último recurso, para que quando a luz desaparecer por completo, que tu possas te tornar ela e trazer a esperança para esta terra uma vez mais.
      Pela primeira vez Rafael viu a preocupação nos olhos de seu mestre, como se ele soubesse que aquilo não era apenas uma hipótese, mas sim algo que estava predestinado a ocorrer. Ele seria seu porta voz, o mais sábio a andar por estas terras, sempre a espreita, esperando o pior acontecer. O mal não poderia vencer.
      O homem estendeu a sua mão esquerda e abriu o punho, antes cerrado, em frente ao seu aprendiz, em sua mão, uma pedra, envolta por uma camada transparente que permitia ver o seu interior a brilhar, com uma luz dourada, semelhante ao sol. - O que é isto? - Perguntou Rafael.
   - Isto, meu amigo, é o resultado que eu busquei por muitas vidas e apenas nesta consegui. Devido à quebra do ciclo, eu não precisei passar anos batalhando contra o ser das trevas e consegui tempo suficiente para forjar esta relíquia. Ela é a prisão perfeita. Nenhuma alma maligna é capaz de fugir da prisão de luz, nada é capaz de sair de dentro após ser ali colocado. Se o mal retornar, o enfraqueça e aqui o prenda, somente assim o ciclo terminará e esta terra estará livre, de uma vez por todas, destas incessantes batalhas que o universo nos destinou a travar pela eternidade.
   - Mas mestre, se acabarmos com o mal para sempre, o que irá acontecer com o senhor?
      Sorrindo o homem respondeu friamente:
   - Eu finalmente poderei descansar em paz!



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terça-feira, 14 de junho de 2016

Os contos de uma ilusão - O Aprendiz

      Vinte anos se passaram desde aquela bela manhã de primavera em que um bebê chorava na porta da cabana do lenhador. Até hoje o homem aguarda a vinda de alguém em busca daquela criança que, agora, ele chama de filho.
Rafael, como fora nomeado, acordara novamente antes dos sóis raiarem para preparar o pão do café da manhã, ele e seu pai partiriam cedo e como de costume, estavam com o serviço atrasado. Não que fosse possível adiantar-se, o senhor feudal da região sempre exigia mais e mais impostos. No trimestre anterior quase perderam a cabana onde moram, por sorte os emissários do governo sentiram o cheiro de pão recém feito e deliciaram-se com aquilo que seu pai chama de a maravilha do mundo novo.
      Ainda na cama, o lenhador acabara de despertar com o cheiro de pão fresco invadindo seu quarto, esfregou de leve seus olhos e deixou correr suas mãos sobre a cabeça um pouco calva, levantou-se num salto como o normal de todas manhãs, acreditava que assim despertaria melhor e estaria mais disposto para o trabalho árduo do dia que viria pela frente. Dirigiu-se à cozinha com seus pés descalços, a cada passo uma tábua diferente do assoalho rangia alto, era impossível andar por aí sem que ninguém percebesse, parou à porta e avistou seu filho adotivo a terminar os últimos preparativos para o almoço que fariam em meio ao bosque. Jovem, de aproximadamente 1,80 de altura, cabelos curtos e castanhos, olhos verde claro e de corpo não muito robusto, virou-se para o pai - Bom dia! Estamos atrasados, de novo. Acho que voltaremos após o anoitecer. - Disse com olhar pesaroso escancarado em sua face.
   - De fato, mas sem pressa filho, às vezes o tempo bem gasto aqui pode nos economizar muitas horas no futuro, sente-se e coma com calma. - Disse pacientemente o velho homem agora sentado em uma cadeira na ponta esquerda da mesa servindo duas xícaras de café bem quente.
   - Mas pai, não temos tempo, pegue um pedaço de pão ou algumas frutas e comemos pelo caminho. - Disse o jovem com tom de impaciência na voz enquanto colocava alguns frutos na cesta de comida. - Logo os cobradores estarão em nossa porta e precisamos dar à eles o que desejam, não penso que algumas fatias de pão irão nos salvar novamente.
      O homem mais velho deu de ombros para o que acabara de ser dito e continuou, tranquilamente, a tomar seu café. Impaciente, o jovem saiu porta afora dizendo enquanto carregava a cesta do almoço em uma das mãos e um machado de corte na outra - Lhe espero no bosque, alguém tem de se preocupar com os problemas que estão por vir.


   - Mais uma longo dia neste bosque amargo. Às vezes penso que vou passar o resto dos meus dias aqui. - Pensou em voz alta o garoto.
   - Apenas se assim desejar! - Ouviu-se de longe uma voz áspera vindo por entre as árvores do bosque. O vento acabara de ficar mais forte e as folhas nas altas copas balançavam intensamente, como se o lugar houvesse ganhado vida.
   - Quem está aí? - Perguntou o rapaz que sem hesitar largou a cesta de comidas no chão e empunhou seu machado de corte com as duas mãos o posicionando em frente ao seu corpo, como se estivesse pronto para defender-se de um ataque surpresa.
Por dentre as árvores um homem alto circundado por uma aura ofuscante e dourada avançou na direção do garoto, com o dedo indicador tocou sua testa e como num piscar de olhos mil cenas invadiram sua mente.
   - E eu me disponho a aprender e sacrificar-me assim que necessário. - Balbuciou o garoto pasmo, seus olhos estavam desfocados como se estivesse encantado com um belo pássaro a cantar em uma ensolarada manhã de domingo. Largou suas ferramentas e adentrou pela floresta seguindo o misterioso homem de armadura dourada.


Continua...
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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Os contos de uma terra sem dono - A fundação das oito casas (Parte 2)


      Entre algumas colunas quebradas e cortinas rasgadas, a luz do sol avermelhado invadia a local onde antigamente era um nobre salão de reuniões, com seus vitrais coloridos e tapetes que conduziam até o trono de bronze encontrado na parte frontal do salão e oposto a uma grande porta de carvalho maciço com brasões e símbolos reais entalhados nela, dois homens, no centro frontal do palácio, com sua postura ereta e com olhar vago e desfocado, o estranho forasteiro que antes fora intimidado pelos habitantes na taverna estava frente a frente com o nobre cavaleiro que mantinha sua pose imponente.

   - É preciso reconstruir Sindera e devolver a este lugar a antiga influência que no passado ele exalava por seus castelos e muralhas. - Argumentava o forasteiro com tom incisivo.
   - Podemos viver de forma mais tranquila se não cedermos a este tipo de tentações novamente, os homens anseiam por poder e quando este lhes é concedido a perdição, que insiste em nos rodear, invade nossos peitos e corrompe até o mais nobre dos guerreiros. Você deveria saber melhor que qualquer outro. - Ao proferir estas palavras o pesar nos olhos do homem a sua frente tornou-se evidente, a culpa por um erro cometido no passado estava escancarada em seu rosto marcado por cicatrizes.

   - Este argumento não isenta a necessidade de termos um novo líder, um novo alguém para que o povo possa seguir, admirar. O que eu fiz está acabado e o preço que paguei foi baixo perto dos meus atos e por isso, meu amigo, precisamos nos unir, pois juntos podemos reconstruir este mundo de ruínas e lembranças de um passado encrustado de erros.
   - E quanto aos outros que sobreviveram, onde estão? - Desconfiado, o nobre deu as costas para o forasteiro e andou alguns metros em direção ao trono de bronze.
   - Assim como eu, estão tentando juntar os destroços que sobraram da nossa terra. Vamos unificar os leais à resistência em condados, vilarejos e quem sabe reinos. - Avançou alguns passos, estendeu seu braço direito como se buscasse algo para se apoiar e então deixou repousar sua mão sobre o ombro do guerreiro. - O sangue dos velhos reis corre em suas veias, por isso estas aqui, liderando estes homens que já não tem para onde ir.
   - Não se esqueça que foi este mesmo sangue que nos condenou a todos por várias e várias vezes, a fraqueza da linhagem é evidente, meu amigo, somos suscetíveis à corrupção. Não quero arriscar-me a cometer os mesmos erros de meus antepassados.

      O forasteiro, sem hesitar, interrompeu-o de forma incisiva.
   - Sua espada poderia estar sendo mais uma mercenária aniquilando vidas inocentes em troca de abrigo e comida, mas não, mesmo que não aceite, você os lidera, esta em seu instinto, permita que isto aflore, Seja o rei que este povo precisa, assuma o posto que é seu por direito, seja a luz após este período tão longo e sofrido de escuridão.
   - Como se pode guiar alguém quando não se é capaz de encontrar o próprio caminho? - Questionou o nobre posicionando-se novamente de frente ao forasteiro que respondeu de imediato.
   - Às vezes precisamos estar cegos para poder enxergar. Por muito tempo estive perdido nas sombras do meu castigo, sem rumo a seguir, condenado a amargurar a escuridão eterna e a culpa por toda a dor que minhas decisões acarretaram. Desde que me foi tirada a visão, naquela última batalha contra o mal, eu trilhei um caminho de rancor e amarguras até que, definhando entre ruínas e fortalezas abandonadas eu encontrei a luz. - De forma suave o bardo, como um dos protagonistas na grande guerra, virou-se para disfarçar a lágrima que escorria por seu rosto. - Talvez você só precise aceitar o seu destino e então ele se encarregará de todo o resto.

      O silêncio arrebatador ocupou o salão de reuniões após as palavras do forasteiro, apenas o som dos ventos e a fina areia que entrava cortante por entre os estilhaçados vitrais coloridos. Loran, o guerreiro de armadura azulada e espada larga estava convencido, a necessidade de um líder assumido era evidente, seu grupo já havia sido atacado e saqueado por bárbaros nômades diversas vezes, sem alguém no comando, formar uma resistência era inviável. Após mais alguns longos minutos de um amargurante silêncio Loran o quebrou dizendo:
   - E que assim seja instituído o primeiro reinado dos povos livres.


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segunda-feira, 30 de maio de 2016

50 aventuras prontas para D&D

Dicas para mestres iniciantes ou não tão criativos que querem começar suas aventuras neste fantástico universo do RPG de mesa.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Os contos de uma ilusão - O Primeiro Encontro

      Era uma amigável manhã de primavera quando ouviu-se um choro de criança ao lado de fora do velho barraco, construído com madeira maciça em meio a um antigo bosque, agora florido e cheio de vida. Entre o cantos dos pássaros Ragash saltou de sua cama num pulo, estava atrasado, as árvores não se cortariam sozinhas e logo os senhores da terra viriam buscar os impostos, sequer atentou-se para os berros da criança que se encontrava em um cesto de vime, ao pé de sua porta frontal. Vestiu sua capa de couro fino, agarrou seu surrado machado de corte e um pedaço de pão velho que estava sobre a mesa da modesta cozinha. Rapidamente foi em direção à porta, por um passo não pôs suas botas sobre o pobre bebê que parecia faminto. Num susto ainda maior que o de antes, saltou para trás, o jovem lenhador deixou seu machado cair e deu mais uma mordiscada no pão, pasmo com a cena perdeu dois ou três minutos observando pensativo, abaixou-se vagarosamente - Um bebê? - pensou o o assustado homem dando leves cutucadas com seu dedo indicador direito nas rosadas bochechas do menino. Colocou o pedaço de pão que restava na boca, com a mão direita segurou a cesta que continha o menino e com a esquerda ajuntou do chão seu machado - Não sei quem esqueceu você aqui garoto, mas eu não posso me atrasar ainda mais, se quiserem que me encontrem na floresta e se me encontrarem que paguem uma boa recompensa por isso. - Falou com voz macia e com um breve sorriso preocupado, sem hesitar pôs-se a andar floresta adentro.



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