Entre algumas colunas quebradas e cortinas rasgadas, a luz do sol avermelhado invadia a local onde antigamente era um nobre salão de reuniões, com seus vitrais coloridos e tapetes que conduziam até o trono de bronze encontrado na parte frontal do salão e oposto a uma grande porta de carvalho maciço com brasões e símbolos reais entalhados nela, dois homens, no centro frontal do palácio, com sua postura ereta e com olhar vago e desfocado, o estranho forasteiro que antes fora intimidado pelos habitantes na taverna estava frente a frente com o nobre cavaleiro que mantinha sua pose imponente.
- É preciso reconstruir Sindera e devolver a este lugar a antiga influência que no passado ele exalava por seus castelos e muralhas. - Argumentava o forasteiro com tom incisivo.
- Podemos viver de forma mais tranquila se não cedermos a este tipo de tentações novamente, os homens anseiam por poder e quando este lhes é concedido a perdição, que insiste em nos rodear, invade nossos peitos e corrompe até o mais nobre dos guerreiros. Você deveria saber melhor que qualquer outro. - Ao proferir estas palavras o pesar nos olhos do homem a sua frente tornou-se evidente, a culpa por um erro cometido no passado estava escancarada em seu rosto marcado por cicatrizes.
- Este argumento não isenta a necessidade de termos um novo líder, um novo alguém para que o povo possa seguir, admirar. O que eu fiz está acabado e o preço que paguei foi baixo perto dos meus atos e por isso, meu amigo, precisamos nos unir, pois juntos podemos reconstruir este mundo de ruínas e lembranças de um passado encrustado de erros.
- E quanto aos outros que sobreviveram, onde estão? - Desconfiado, o nobre deu as costas para o forasteiro e andou alguns metros em direção ao trono de bronze.
- Assim como eu, estão tentando juntar os destroços que sobraram da nossa terra. Vamos unificar os leais à resistência em condados, vilarejos e quem sabe reinos. - Avançou alguns passos, estendeu seu braço direito como se buscasse algo para se apoiar e então deixou repousar sua mão sobre o ombro do guerreiro. - O sangue dos velhos reis corre em suas veias, por isso estas aqui, liderando estes homens que já não tem para onde ir.
- Não se esqueça que foi este mesmo sangue que nos condenou a todos por várias e várias vezes, a fraqueza da linhagem é evidente, meu amigo, somos suscetíveis à corrupção. Não quero arriscar-me a cometer os mesmos erros de meus antepassados.
O forasteiro, sem hesitar, interrompeu-o de forma incisiva.
- Sua espada poderia estar sendo mais uma mercenária aniquilando vidas inocentes em troca de abrigo e comida, mas não, mesmo que não aceite, você os lidera, esta em seu instinto, permita que isto aflore, Seja o rei que este povo precisa, assuma o posto que é seu por direito, seja a luz após este período tão longo e sofrido de escuridão.
- Como se pode guiar alguém quando não se é capaz de encontrar o próprio caminho? - Questionou o nobre posicionando-se novamente de frente ao forasteiro que respondeu de imediato.
- Às vezes precisamos estar cegos para poder enxergar. Por muito tempo estive perdido nas sombras do meu castigo, sem rumo a seguir, condenado a amargurar a escuridão eterna e a culpa por toda a dor que minhas decisões acarretaram. Desde que me foi tirada a visão, naquela última batalha contra o mal, eu trilhei um caminho de rancor e amarguras até que, definhando entre ruínas e fortalezas abandonadas eu encontrei a luz. - De forma suave o bardo, como um dos protagonistas na grande guerra, virou-se para disfarçar a lágrima que escorria por seu rosto. - Talvez você só precise aceitar o seu destino e então ele se encarregará de todo o resto.
O silêncio arrebatador ocupou o salão de reuniões após as palavras do forasteiro, apenas o som dos ventos e a fina areia que entrava cortante por entre os estilhaçados vitrais coloridos. Loran, o guerreiro de armadura azulada e espada larga estava convencido, a necessidade de um líder assumido era evidente, seu grupo já havia sido atacado e saqueado por bárbaros nômades diversas vezes, sem alguém no comando, formar uma resistência era inviável. Após mais alguns longos minutos de um amargurante silêncio Loran o quebrou dizendo:
- E que assim seja instituído o primeiro reinado dos povos livres.
- E quanto aos outros que sobreviveram, onde estão? - Desconfiado, o nobre deu as costas para o forasteiro e andou alguns metros em direção ao trono de bronze.
- Assim como eu, estão tentando juntar os destroços que sobraram da nossa terra. Vamos unificar os leais à resistência em condados, vilarejos e quem sabe reinos. - Avançou alguns passos, estendeu seu braço direito como se buscasse algo para se apoiar e então deixou repousar sua mão sobre o ombro do guerreiro. - O sangue dos velhos reis corre em suas veias, por isso estas aqui, liderando estes homens que já não tem para onde ir.
- Não se esqueça que foi este mesmo sangue que nos condenou a todos por várias e várias vezes, a fraqueza da linhagem é evidente, meu amigo, somos suscetíveis à corrupção. Não quero arriscar-me a cometer os mesmos erros de meus antepassados.
O forasteiro, sem hesitar, interrompeu-o de forma incisiva.
- Sua espada poderia estar sendo mais uma mercenária aniquilando vidas inocentes em troca de abrigo e comida, mas não, mesmo que não aceite, você os lidera, esta em seu instinto, permita que isto aflore, Seja o rei que este povo precisa, assuma o posto que é seu por direito, seja a luz após este período tão longo e sofrido de escuridão.
- Como se pode guiar alguém quando não se é capaz de encontrar o próprio caminho? - Questionou o nobre posicionando-se novamente de frente ao forasteiro que respondeu de imediato.
- Às vezes precisamos estar cegos para poder enxergar. Por muito tempo estive perdido nas sombras do meu castigo, sem rumo a seguir, condenado a amargurar a escuridão eterna e a culpa por toda a dor que minhas decisões acarretaram. Desde que me foi tirada a visão, naquela última batalha contra o mal, eu trilhei um caminho de rancor e amarguras até que, definhando entre ruínas e fortalezas abandonadas eu encontrei a luz. - De forma suave o bardo, como um dos protagonistas na grande guerra, virou-se para disfarçar a lágrima que escorria por seu rosto. - Talvez você só precise aceitar o seu destino e então ele se encarregará de todo o resto.
O silêncio arrebatador ocupou o salão de reuniões após as palavras do forasteiro, apenas o som dos ventos e a fina areia que entrava cortante por entre os estilhaçados vitrais coloridos. Loran, o guerreiro de armadura azulada e espada larga estava convencido, a necessidade de um líder assumido era evidente, seu grupo já havia sido atacado e saqueado por bárbaros nômades diversas vezes, sem alguém no comando, formar uma resistência era inviável. Após mais alguns longos minutos de um amargurante silêncio Loran o quebrou dizendo:
- E que assim seja instituído o primeiro reinado dos povos livres.
Continua...
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